... e sereis como deuses. Com esta frase a serpente convenceu a humanidade, representada no Éden por Adão e Eva, a comer o fruto proibido. Iniciava-se aí o mergulho humano no mundo da manifestação. Iniciava-se, também, a saga de sofrimento que tem origem no crédito dado pelo homem ao que foi dito pela serpente.
A serpente disse que seríamos “como deuses”. Acreditamos nisso no Éden e continuamos acreditando. Por termos acreditado desenvolvemos a vaidade, o orgulho, a soberba, a noção de separatividade e o desejo de poder e ter. Isso apenas para citarmos alguns dos aspectos negativos que a natureza humana desenvolveu após a “queda”. ...e sereis como deuses. Até quando vamos continuar acreditando nisso.
Mais de dois mil anos se passaram desde que Jesus, com sua vida, sua morte e palavras, nos mostrou que devemos rejeitar todo e qualquer procedimento, ou ação, que tenha origem no conceito de grandeza. Qualquer ação humana que tenha seu alicerce fincado na noção de grandeza pessoal é de natureza serpentina. Se alguém acreditar que a voz da serpente se calou, vai relaxar e esquecer o que foi nos recomendado por Jesus: ORAI E VIGIAI. Esta frase resume o que devemos fazer para nos proteger da voz que tenta, e vai tentar sempre, fazer crer que somos como deuses.
Não é difícil a serpente falar alto, incutindo em nossos corações e mentes, que podemos salvar empresas, famílias, países e almas. É daí que nascem os “escolhidos”, os que fazem o “trabalho de Deus” – cobram por isso - e os salvadores do mundo e de almas. E, como certas situações negativas advindas do passado permanecem existindo, desprezam toda a grandeza, principalmente humana, que o passado nos legou. Não é difícil, para os enredados pelo bote serpentino, confundirem sabedoria espiritual com mentalismo e tecnologia épica. Com esta visão desprezam o passado e reinventam filosofias e rituais. Rituais tradicionais já não servem. O momento é outro e o passado nada tem para ensinar – devem afirmar. A sociedade requer modernidade, curas, exorcismos, rituais animados e templos superlotados – dizem eles. É como se o que Deus espera de nós estivesse condicionado ao que a sociedade, o mentalismo, a cultura e a moral social da época esperam. É muito fácil esquecer, quando se ouve a voz que vem do mundo, que o que emana do Eterno é eterno. Não muda com as eras e muito menos com as pessoas. Que a Verdade, quando for conhecida e não sabida, nos libertará. E, como tudo que vem de Deus, a verdade é tão simples como o mais simples dos homens. Para ser conhecida independe de intelecto desenvolvido. Pode então ser conhecida, não sabida, pelo mais simples e menos intelectual dos homens.
É preciso crer no que a Bíblia nos ensina. Ela não pode ser utilizada para fazer crer que cremos e podemos. Não pode ser instrumento de nossa inteligência para dominação, enriquecimento e muito menos para satisfazer nossos sentimentos de grandeza e “sapiência”.
A Bíblia é a carta que Deus enviou a cada um de seus filhos. É como filhos, iguais, e irmãos que devemos lê-la. É como filhos, iguais, e irmãos que devemos viver. É muito fácil para os que acham que já estão salvos, muito mais ainda para os que acham que podem salvar os outros, relaxar e deixar de orar e vigiar. Correm o risco de aumentar a visão sobre si, transformarem-se em “cegos que guiam cegos” e “salvadores” que precisam de salvação.
Jesus nos diz: VINDE E VEDE. A serpente nos diz: VEDE e VINDE.