O mundo me mostrou muitas coisas. Em determinados momentos dei muito valor a muitas delas. Tentei segurar algumas. De maneira forte e determinada procurei mantê-las mesmo quando de mim começavam a afastar-se. Custei a entender que, na verdade, nada que o mundo nos dá é permanente. De alguma maneira, ou as deixamos ou elas nos deixam. Sempre foi assim, é assim e sempre será assim. O mundo empresta com tempo determinado. Cabe ao tempo o trabalho de levar tudo o que nos foi emprestado. O que temos, ou que achamos que temos e o que somos, ou que achamos que somos. Tudo levado pelo tempo. É assim para quem centra sua consciência no mundo e busca valorizar o que do mundo recebe. Seja positivo ou negativo. Os empréstimos vencidos, e que precisam ser quitados, trazem, muitas vezes, muito sofrimento.
Existe algo real? Sim, existe. É só olhar a cruz. No seu braço horizontal, regido pelo tempo, estão os empréstimos. No braço vertical, eterno e imutável, está Deus. Ontem, hoje, amanhã e sempre. Uma realidade completa, verdadeira e sempre pronta a receber e abraçar, de forma incondicional, os que começarem a olhar para cima esquecidos do quero, do tenho e do sou. Os esquecidos do jogo cruel do tempo. São João nos diz que Deus é amor. Não nos diz que o amor está em Deus, mas que Deus é o próprio amor. O que vem de Deus não é empréstimo. É herança que não estará disponível depois. Está á nossa disposição agora. Vinde e vede, como dissemos em nosso artigo anterior. Só os jogos mentais dizem Vede e vinde. Os jogos mentais são do mundo. E, muitas vezes, nos atraem a contrairmos empréstimos com alto custo pessoal e com nenhum benefício. O mundo espiritual verdadeiro é mistério puro. Segredos são transmitidos, os mistérios nunca. É preciso acreditar que existe uma realidade única, pessoal e indivisível no braço vertical da cruz. É preciso Ir e ver. É a fé que nos fornece a coragem necessária para ir e ver.
Eu vim para que nada se perca, disse Jesus. E nada se perderá para os que se determinarem a viver segundo a vontade de Deus, esquecerem os empréstimos dados pelo tempo e compreenderem que caminhando em direção a Deus, mais se vê. E quando se começa a ver, e é logo ali, mais quer se ver. É o mistério da fronteira da fé. Enche de maravilhas a caminhada do caminhante que, quanto mais caminha, mais lhe é dado ver. É uma caminhada sem retorno depois que se descobre que todos os empréstimos somados do mundo carecem de valor mesmo no início da caminhada.
Vinde e vede.